Homem contra máquina, tecnologia moderna contra a mente e o espírito humano!

Não estamos falando de outra sequência de Exterminador do Futuro, mas de uma série de desafios de poker em que humanos apostam e blefam contra computadores complexos ao longo de vários anos.

Programadores modernos trabalharam para desafiar mestres em jogos como xadrez, damas e outros. 

Empresas de tecnologia, desenvolvedores de software e programas universitários de pesquisa veem esses desafios como oportunidades.

Eles podem entender melhor como aprender e desenvolver vários tipos de programas e avanços tecnológicos.

High-Tech e High Stakes

A missão de derrotar humanos em jogos complexos vem de muito tempo. Um dos primeiros esforços significativos veio com a IBM nos anos 1980. A empresa estava trabalhando para desenvolver um computador que pudesse derrotar alguns dos mestres do xadrez.

Essa missão atingiu seu ápice em 1996, com o Deep Blue duelando com o grande mestre Gary Kasparov. 

Dessa vez, o humano saiu vencedor, ganhando quatro partidas e perdendo duas. Engenheiros trabalharam na máquina, fazendo com que ela aprendesse da primeira série de jogos.

Kasparov enfrentou o computador um ano depois, e o Deep Blue triunfou dessa vez, ganhando três partidas, perdendo duas e empatando uma.

A série foi um avanço no uso da inteligência artificial, e alguns programadores e desenvolvedores de software logo voltaram-se para o poker. Assim como o xadrez, o poker oferece muitas possibilidades e tomadas de decisão. Qualquer adversário computadorizado teria de "aprender" e se adaptar.

Homem com óculos espelhados

"Diferentemente do xadrez ou do gamão, em que os movimentos dos dois jogadores são claramente legíveis no tabuleiro, no poker um computador tem que interpretar as apostas de seus adversários apesar de nunca ter certeza de que cartas eles têm", observou o New York Times.

O poker é um jogo com infinitas possibilidades e que pode ser "derrotado" pela tecnologia. O mundo do poker tornou-se o grupo mais recente de jogadores a considerar se homem ou máquina venceria.

Polaris Estabelece Tendência de Poker Contra o Computador

Um dos primeiros esforços significativos no sentido de "desvendar" jogadores de poker humanos aconteceu em 2007, na Universidade de Alberta, no Canadá. Pesquisadores usaram vários bots de poker e programaram estratégias fixas.

O computador podia escolher entre essas estratégias durante um jogo de poker.

Durante dois dias em julho de 2007, Polaris enfrentou os profissionais do poker Phil Laak e Ali Eslami no Hyatt Regency Hotel, em Vancouver, na Colúmbia Britânica.

O desafio consistiu em duas partidas com 500 mãos por partida. Em um jogo idêntico, as mesmas cartas foram dadas aos jogadores humanos e ao Polaris, mas com as posições na mesa invertidas.

Esse setup garantia que ambos jogadores tivessem as mesmas cartas e a mesma oportunidade para jogar nos dois lados de uma mão. Foi também uma maneira de reduzir a variação envolvida no poker ao longo de um curto prazo.

Laak havia jogado contra uma versão anterior do Polaris chamada VexBot em 2005. Ele saiu vencedor, mas observou, em seguida, que sua vitória veio com uma pitada de sorte.

Como ele e seus colegas jogadores humanos se sairiam neste desafio?

Os humanos somaram duas vitórias, um empate e uma derrota.

Homem jogando poker com óculos espelhados

Uma versão mais forte competiu no Second Man-Machine Poker Championship, em Las Vegas, em 2008. Desta vez, o Polaris mostrou-se um rival muito mais duro.

Durante seis sessões, o Polaris anotou três vitórias, duas derrotas e um empate contra jogadores humanos.

Cada partida foi composta por 500 mãos de poker contra dois jogadores diferentes. Foram 6 mil mãos, e o Polaris terminou com 195 big blinds nesse período.

O sucesso do computador foi um sinal do que estava por vir. Pesquisadores trabalharam para melhorar a inteligência artificial e fazer uma máquina mais sólida, ou seja, um adversário muito mais competente.

A Chance de Claudico 

O professor da Carnegie Mellon University Tuomas Sandholm e alguns de seus alunos projetaram o programa Claudico AI. A equipe tentou fazer com que o programa aprendesse por conta própria em vez de desenvolver algo pré-programado com muitas estratégias e alternativas.

Na prática, não era algo tão simples assim, mesmo nos anos 2010. Era necessário um supercomputador com 16 terabytes de RAM para realizar a tarefa.

"O poker agora é um benchmark para a pesquisa sobre inteligência artificial, assim como o xadrez foi um dia", disse Sandholm.

"É um jogo de enorme complexidade que exige que uma máquina tome decisões baseada em informação incompleta e quase sempre enganosa por conta dos blefes, de slowplay e outras malandragens." 

Em julho de 2014, o Claudico venceu um torneio de poker contra outros computadores, mas teria um teste ainda mais duro contra jogadores humanos em 2015.

Homem jogando poker com óculos espelhados

O computador enfrentou Dong Kim, Jason Les, Bjorn Li e Doug Polk em uma série de confrontos cara-a-cara de 24 be abril a 8 de maio.

  • Claudico enfrentou duas partidas com mais de 750 mãos durante oito horas em cada dia. Isso significou 20 mil mãos por jogador.
  • O objetivo era fornecer uma grande amostra de mãos para eliminar tanto quanto possível o fator sorte.
  • 80 mil mãos tornaram-se o maior número de mãos humano-contra-computador já jogadas.

Também havia dinheiro em jogo, com uma premiação total de US$ 100 mil doada pelo Rivers Casino e pela Microsoft. O jogo foi até transmitido ao vivo na Twitch. Melhores momentos foram exibidos no Poker Night in America, da CBS Sports.

No fim, os jogadores de poker venceram a partida com um placar acumulado de 732.713 fichas. Não havia valores em jogo. Ao todo, o grupo de humanos se mostrou dominante.

Após a partida, Polk observou que os programadores da inteligência artificial ainda tinham trabalho a fazer baseados em como o computador jogava.

"Onde um humano pode fazer uma aposta de metade ou três quartos do pote, Claudico às vezes apostava apenas 10% ou 1000%", ele disse ao PokerNews. "Apostar US$ 19 mil para ganhar um pote de US$ 700 não é algo que uma pessoa faria." 

Libratus Derrota Mentes Humanas

As primeiras tentativas de criar computadores que derrotassem jogadores de poker humanos fracassaram. Jogadores de poker habilidosos conseguiam encontrar pontos fracos na inteligência artificial dos adversários do mesmo jeito que os melhores jogadores fazer nas mesas de poker de verdade.

Homem jogando poker com óculos espelhados

A IA e adversários computadorizados não conseguiam se adaptar ou mudar no mesmo ritmo de humanos.

Em 2017, o departamento de ciência da computação da Carnegie Mellon University tentou mudar isso. Eles queriam ver se a IA podia, de fato, derrotar adversários humanos.

Eles recrutaram uma equipe de quatro grandes jogadores de poker para o desafio "Brains vs Artificial Intelligence: Upping the Ante" no Rivers Casino, em Pittsburgh, na Pensilvânia.

A inteligência artificial de poker chamada "Libratus", desenvolvida pela Carnegie Mellon, enfrentaria os profissionais (Jason Les, Dong Kim, Daniel McAulay e Jimmy Chou) durante 20 dias.

Libratus derrotou seus adversários

Após 120 mil mãos cara-a-cara de No-Limit Texas Hold'em, Libratus ganhou US$ 1,8 milhão de seus adversários. Os cientistas envolvidos no desafios ganharam informações sobre muito mais do que poker. Eles observaram como a IA conseguia equacionar situações com informações incompletas - que é, sem dúvida, o caso em um jogo de poker.

Usando o poker, os pesquisadores ajudaram na evolução das utilizações da IA. O time listou possíveis utilizações futuras, como:

  • Negociações
  • Estratégia militar
  • Cybersegurança
  • Tratamento médico e mais!

A maioria dos jogadores pensa que um poker bot é trapaceiro e um aspecto negativo do jogo. Neste caso, Libratus mostrou ser uma vitória do avanço da tecnologia - assim como na mesa de poker.

"O computador não pode vencer no pode se não conseguir blefar", disse o chefe do departamento de ciência da computação da universidade Carnegie Mellon, Frank Pfenning, ao jornal da universidade.

"Desenvolver uma IA que possa fazer isso com sucesso é um enorme passo à frente cientificamente e tem várias aplicações. Imagine que sem smartphone algum dia conseguirá negociar o melhor preço em um carro zero para você. Isto é só o começo." 

Pluribus e o Poker

Em 2019, pesquisadores da Carnegie Mellon voltaram ao trabalho, com o Facebook como parceiro. Eles buscavam sucesso em jogos de poker com mais de um adversário.

O objetivo era fazer a IA vencer um jogo padrão de poker com alguns dos melhores do mundo.

Homem com óculos escuros jogando poker

Desta vez, o computador do time de ciência da universidade enfrentaria jogadores como os seguintes profissionais:

  • Jason Les
  • Chris Ferguson, hexacampeão da World Series of Poker
  • Darren Elias, tetracampeão da World Poker Tour

O Pluribus não conseguia tentar prever o objetivo final. Jogar poker contra adversários múltiplos significava que ele precisaria raciocinar em tempo real.

Noam Brown, cientista do Facebook AI Research e um dos criadores do Pluribus, disse ao Wall Street Journal:

"Poker multiplayer é considerado uma espécie de arte que requer várias habilidades, especialmente a capacidade de ler interações humanas e levar isso em consideração para explorar erros e fraquezas", apontou o jornal.

Diferente de seus antecessores, o Pluribus desenvolvia sua própria estratégia. Ele até blefava ao "ver" trilhões de mãos nos confrontos contra os outros cinco adversários.

Os jogadores não conseguiam se igualar à análise de dados da máquina e do software. E até mesmo os melhores jogadores de poker enfrentam dificuldades físicas após muitas horas à mesa.

"Uma boa IA tem uma vantagem absurda contra humanos: eles não se cansa", disse o jogador e profissional experiente Michael Galiano ao Journal. "Eles não sentem fome. Eles não lidam com emoções."

No fim, o Smithsonian apontou que o Pluribus "ganhou uma média de US$ 5 por mão, ou US$ 1.000 por hora jogando contra cinco adversários humanos.

Nada mau.

MIT também Pesquisa IA no Poker

Cérebro em gráfico futurista

Carnegie Mellon e a Universidade de Alberta são são as únicas universidades a usar o poker para buscar avanços na tecnologia. O Massachusetts Institute of Technology (MIT) sedia um torneio de bots de poker.

Como dito anteriormente, bots não são permitidos pela maioria dos sites de poker, mas estes bots são usados para avanço de tecnologia e pesquisa envolvendo programação, desenvolvimento de software, inteligência artificial e mais.

O evento anual é composto por times de um a quatro estudantes de programação. Eles jogam um contra o outro para ver qual criação tem mais habilidades na mesa de poker.

"Como jogo de incerteza e informação incompleta, o poker é uma excelente aplicação dos conceitos teóricos do jogo e de habilidades de tomada de decisão que são essenciais no mercado de ações", diz o site do torneio.

"Enquanto traders tomam decisões de risco baseados na informação limitada que recebem dos mercados, jogadores de poker também tomam decisões baseados em informações ocultas, levando em consideração fatores como valor esperado e a probabilidade de distribuição." 

Competidores também tentam "aplicar conceitos em economia, matemática e ciência da computação que não são desenvolvidos normalmente em ambientes acadêmicos para derrotar seus adversários." 

Pode não ser a World Series of Poker, mas a competição é acirrada e atrai vários patrocinadores a cada ano. Cada time tem um mês para programar um bot de poker completamente autônomo.

A competição de 2022 deu mais de US$ 40 mil em prêmios. Ela também chamou atenção de empresas de trading quantitativo e de tecnologia.

IA e Computadores Têm Vantagens, Mas Isso Importa?

Parece que a tecnologia está conquistando a vantagem nessas batalhas cara-a-cara de alta tecnologia. Computadores têm muitas vantagens logo de saída.

  • Primeiro, não há desvantagem financeira para a IA.
  • Um oponente humano encara consequências monetárias reais no poker.
  • Um draw perdido por um computador não afeta a máquina ou o software.
  • Um jogador de poker encara consequências reais ao perder uma sessão no mundo real.
  • Eles também podem ter de pensar em seu jogo no longo prazo, e não apenas em uma só mão.

A falta de informação física de uma máquina também é uma vantagem para a máquina. Vários jogadores que participaram nas batalhas de IA apontaram que uma máquina não sinaliza que pode estar blefando. Tells físicos que podem ser cruciais em uma mesa de poker real não existem nessas sessões high-tech de Hold'em.

Obviamente, o papo de mesa também fora de questão.

  • Jogadores não podem pescar no ar tells verbais ou palavras que possam dar uma pista sobre o estilo de jogo do computador.
  • Jogadores estarão com mais frequência em situações de adivinhar, especialmente contra algumas das melhores IAs que jogam poker.

No entanto, de modo geral é crucial lembrar que poker é um jogo para humanos. Parte da diversão é jogar usando o cérebro e a inteligência para ousar derrotar outros jogadores.

Ganhar ainda é emocionante.

Mesmo online, você está enfrentando outros humanos.

a IA pode estar levando a vantagem por enquanto, mas ganhar ou perder não faz diferença para um programa de computador. Não há consequência no mundo real do poker se a IA consegue derrotar um jogador aleatório. Ir ao caixa com mais dinheiro do que no começo do jogo ainda é satisfatório.

Derrotar outros humanos é sempre muito mais divertido.