Enquanto assistimos ao professor universitário, Tuomas Sandholm, cumprimentar seu jovem estudante de PhD, Noam Brown, estaríamos nós diante do Apocalipse do Pôquer?
Não há armas.
Ninguém está morto.
Mas, depois de sua Inteligência Artificial (IA) Libratus derrotar quatro jogadores humanos em mais de 120.000 mãos de Heads-Up No-Limit Hold'em, consigo sentir o cheiro da pólvora daqui.
Jason Les (-880.097), Jimmy Chou (-522.857), Daniel McAulay (-277.657) e Dong Kim (-85.649), foram todos impiedosamente vencidos por uma máquina que era, claramente, muito boa quando comparada a eles. A última derrota foi por uma margem de 1.776.25 fichas ou 14 big blinds a cada 100 mãos.
"Nós fomos terrivelmente derrotados", disse McAuley após ser vencido.
Esse é um momento marcante para a IA. As máquinas derrotaram os melhores jogadores vivos no xadrez, no Atari e, mais recentemente, no Go. Mas uma máquina nunca havia derrotado uma pessoa real em um jogo de informações incompletas, pelo menos até agora.
Libratus era capaz de aprender com seus erros, diariamente. Todos os quatro jogadores disseram que a máquina foi melhorando ao longo dos 20 dias, descartando suas fraquezas como se fossem poeira levada por um furacão.
Aí está o problema.
Não há limite para essa "coisa".
Os avanços realizados na IA, auxiliados por esse momento histórico, terminarão muito mal para a humanidade. A IA se tornará tão inteligente que nos destruirá da mesma forma que destruímos um cordão de formigas que se atreve a entrar em nossa casa. Ou, usaremos a IA para destruir nós mesmos.
As pessoas estão se perguntando se isso significa o fim do pôquer online.
Esqueça isso.
Isso pode significar o fim do mundo.
A extensão de sua inteligência é inimaginável. Não temos ideia do que acontecerá quando a IA desenvolver um nível de inteligência que ultrapassa nosso conjunto insignificante de átomos. E a taxa de progresso é irrelevante. Alguém deu ao Sísifo o dia de folga. A pedra está rolando, e não há ninguém para impedi-la.
Eu sei o que você está pensando.
Que fatalista.
E você pode estar certo, é por isso que consultei seis jogadores de pôquer profissionais, além de Bill Perkins, dos Berlin Bears, para saber o que eles acham do Libratus e o papel da IA no pôquer e em outros lugares.
Os seres vivos vencerão?
Antes do início do confronto, pedi ao júri para escolher um vencedor, e 70% deles acharam que os humanos teriam uma pequena vantagem sobre a IA. Nenhum deles acreditou que um dos lados ganharia de forma arrasadora, a maioria dos entrevistados afirmou que a vitória seria marginal.
"Eu achei que os humanos venceriam e ainda acho, independentemente dessa primeira rodada, o algoritmo terá uma falha explorável após ser decifrado", disse o Berlin Bear do Índice de Pôquer Global, Bill Perkins. "Meu palpite é que o programa não será capaz de diferir de forma suficiente a oscilação de variações e o tamanho da aposta de um oponente humano. Não estou desconsiderando a possibilidade de que eles criem um jogador de IA muito forte que poderia alcançar uma classificação muito alta. Acredito que um dos motivos pelos quais os desenvolvedores apresentam extrema discrição sobre como o programa funciona é que ele é explorável".
"Eu esperaria que os humanos vencessem, contanto que fossem mentalmente hábeis o suficiente para tentar explorar os padrões que veem surgir de uma IA, sem perder seu conhecimento sobre os conceitos básicos em uma tentativa de "enganar o computador", disse Niman "Samoleus" Kenkre.
"Eu não achava que a IA tinha avançado o suficiente", disse o vencedor do bracelete do World Series of Poker (WSOP), Andrew Barber. "Mas esse pensamento foi bem besta, considerando o passo do desenvolvimento da IA e o cenário famoso prevendo a Singularidade (o ponto em que os computadores ultrapassam os humanos no quesito inteligência) em 10 a 15 anos".
Matt Ashton foi o único membro do júri que nunca duvidou que Libratus venceria.
"Os humanos não venceriam", disse o ex-vencedor do Campeonato de Jogadores de Pôquer do WSOP, Matt Ashton. "Antes do jogo, eu lembro de pensar que a IA seria muito aprimorada quando comparada ao último ano, achei que ela poderia ser a favorita, e fui surpreendido pelas pessoas apostando 3-1 contra a IA em 2+2 e Pokershares".
Ashton está falando sobre o confronto entre a IA Claudico e quatro jogadores humanos que aconteceu em 2015. Os jogadores ganharam aquele jogo por 7.300 big blinds, mas a equipe de pesquisa disse que eles aprenderam o suficiente para realizar as alterações necessárias para derrotar os humanos.
Eles estavam dizendo a verdade.
Você se importa se a IA vencer e solucionar o NLHE?
57% do júri estava preocupado com uma vitória do Libratus, mas como Terrence Chan e Brian Rast apontaram, o êxito da máquina não significa que o NLHE está resolvido. Isso significa apenas que a IA derrotou humanos em uma partida de Heads-Up NLHE.
"Vencer não significa solucionar o NLHE", disse o lutador de MMA e jogador profissional, Terrence Chan. "Uma verdadeira solução de equilíbrio de HU NLHE ainda está muito longe, e tenho certeza que as pessoas na Carnegie-Mellon admitiriam isso".
"Há uma diferença entre a vitória da IA e solução do NLHE", disse o vencedor de vários braceletes do WSOP, Brian Rast. "Além disso, observe que é o HU NLHE e não o NLHE em geral. A IA não "solucionou" o HU NLHE".
Bryan Paris ganhou $10 milhões jogando pôquer online, então ele se importa, e muito, com a vitória de Libratus.
"É claro que eu me importo", disse Paris. "Isso poderia tornar meu trabalho obsoleto".
Brian Rast também teme pelo futuro do pôquer online.
"Eu já acreditava que os dias do pôquer online estavam contados, e isso só reforçou meu pensamento", disse Rast.
Matt Ashton e Chan acreditam que sempre houve essa sensação de inevitabilitade sobre o crescimento da IA e o futuro do pôquer online.
"A vitória dos humanos sobre a IA aqui poderia dar mais confiança de uma durabilidade levemente maior do pôquer online, mas, já há algum tempo, parecia inevitável que esse crescimento viria", disse Ashton.
"Apesar de isso ser relevante para mim, pois sou jogador de pôquer, os computadores serem melhores que os humanos é um acontecimento inevitável, então, acontecendo agora, no ano que vem ou em 2020, a data não é muito relevante para mim", disse Chan.
Andrew Barber acredita que a vitória da IA tem implicações muito maiores que apenas a profissão de um jogador de pôquer online.
"Eu queria que o pôquer fosse um jogo mais difícil de ser solucionado, por motivos egoístas, mas quero usar essa oportunidade como um momento de aprendizado", disse Barber. "No mínimo, isso mostra que os computadores estão alcançando trabalhos que requerem níveis razoáveis de inteligência, então precisamos começar a discutir o que faremos com as pessoas que ficarão desempregadas. Me parece que, daqui a pouco, não teremos mais empregos para nos candidatar".
Eu concordo com Barber.
De acordo com o Bureau of Labor Statistics, havia 1,6 milhão de motoristas de caminhão nos Estados Unidos em 2014, mais de 0,5% da nação, com o poder aquisitivo de 0,3% do PIB dos EUA.
Quanto tempo vai demorar até que os humanos não operem mais caminhões, aviões, navios, ônibus e trens?
Se a IA vencer, a profissão de jogador de pôquer online estará morta?
Dos entrevistados, Brian Rast foi o único a responder definitivamente que o fim do pôquer online está próximo, apesar de Rast apontar que ele acredita que os problemas do pôquer online começaram bem antes do Libratus aparecer.
"O pôquer online está morrendo, mas isso já estava acontecendo", disse Rast. "Esse é um marco público de um processo de transição que já está acontecendo".
Diversos entrevistados acreditam que o pôquer online Heads-Up está em maus lençóis, mas como um todo, o empreendimento sobreviverá.
"No mínimo, apostas altas certamente deixarão de existir", disse Bryan Paris.
"Certos tipos de Heads-Up, sim", disse Andrew Barber. "Acredito que jogos com três ou mais participantes sejam insolúveis, mas posso estar errado".
A pergunta "o pôquer está morto?" depende muito da habilidade das salas de pôquer de prevenir a proliferação de robôs como resultado de avanços na IA. Um ponto que Niman Kenkre aborda bem.
"Depende de quão bem os sites conseguem detectar e policiar os robôs usando seus sites", disse Niman Kenkre. "Seria interessante implementar algumas contramedidas simples se os sites valorizassem sua integridade neste quesito. Mas isso, com certeza, não ajudaria. É claro, o pôquer online não está florescendo como estava há 7 ou 8 anos, então, se a IA se tornar mais competente, seria outra pancada, mas não necessariamente fatal".
Tanto Terrence Chan quanto Matt Ashton acreditam que ainda há chances para os macacos velhos.
"Claro que não", respondeu Terrence Chan ao ser perguntado se o pôquer online estava morto. "Há jogos além do 200bb HUNL. Se olharmos para trás, quando a University of Alberta solucionou o HU LHE completamente, continuamos jogando LHE online".
"Claramente, ainda não", disse Matt Ashton. "Também acho que jogos mistos com diversos jogadores serão, provavelmente, difíceis para a IA vencer ainda por algum tempo, e talvez não valha a pena a força de processamento que isso levaria. Dito isto, quanta ação acontecerá é outra pergunta. Acredito que os jogos provavelmente continuarão em um nível particular em que as pessoas não estão preocupadas o suficiente sobre a existência de robôs ou em perder dinheiro para eles para parar de jogar, e não acho que é impossível que algumas pessoas possam ganhar a vida com esses jogos. Mas me parece que, provavelmente, haverá muito pouco espaço para a profissão no futuro".
Bill Perkins consegue ver um mundo em que os humanos competirão prontamente com robôs, da mesma maneira que o grande mestre do xadrez, Garry Kasparov, começou a prestar atenção na criação de uma parceria entre humanos e IA no xadrez após perder para a IA Deep Blue.
"Acredito que há robôs online que já são melhores que a média e podem jogar ring games e se saírem bem com supervisão humana", disse Perkins. "Não acredito que o pôquer online esteja morto, apesar de que ele mudará conforme o surgimento crescente de IAs cada vez mais fortes "solucione" jogos de pôquer. Talvez as pessoas jogarão conscientemente contra os robôs, talvez o valor de ser um professional caia por terra no mundo online conforme os amadores recebem comentários em tempo real sobre como jogar. O pôquer online se transformará".
Uma IA ganhará, um dia, um bracelete do WSOP?
Com o anúncio recente de três eventos online do World Series of Poker (WSOP) presenteando com bracelete na próxima temporada, combinado com a visão de Bill Perkins de que um dia veríamos humanos desejando jogar contra robôs, conseguimos ver uma IA vencendo um bracelete?
A resposta avassaladora foi "não", apesar de haver alguns comentários interessantes sobre o uso da IA em torneios ao vivo.
"Uma IA poderia facilmente vencer um bracelete do WSOP se um jogador em carne e osso tivesse permissão para usá-la durante o jogo", disse Paris. "Quem sabe, se o Google Glass se tornar evoluído o suficiente. Não deve demorar muito".
"Apostaria muito dinheiro contra uma IA ter permissão para jogar em um WSOP antes de, digamos, 2025", disse Terrence Chan. "O pôquer, em um futuro possível, provavelmente continuará da forma que está hoje, os jogadores mais brilhantes e inteligentes usarão ferramentas de computador longe da mesa para continuar a aprender mais sobre o pôquer, para que eles possam implementar estratégias ainda mais avançadas nas mesas ao vivo e online. Como os computadores não são permitidos na mesa, os melhores jogadores serão aqueles que integrarem da melhor forma o conhecimento adquirido da ferramenta em sua massa cinzenta".
Perkins aborda bons pontos sobre o avanço dos jogos "acompanhados por computador".
"Não acho que permitirão que robôs joguem no WSOP, mas o que temos visto são jogos auxiliados por computador", disse Bill Perkins. "Por exemplo, após cada mão você pode olhar sua posição no gráfico do Snap Shove, para te ajudar a tomar decisões para a próxima mão. A próxima etapa para os gráficos do Snap Shove é incorporar montes de fichas dos outros jogadores e variações históricas para que ele possa avaliar sua variação de desistência e aumento, etc.
"Os profissionais já estão jogando pôquer em ótimos padrões, ajustando seu jogo para variações e jogadas dos outros jogadores... Agora mesmo o iniciante pode jogar tão bem quanto um profissional, com montes abaixo de 15bb em um torneio usando os gráficos do Snap Shove, o que é permitido enquanto não se recebe a mão. Iterações bem-sucedidas disso integrarão ainda mais a colaboração entre humanos e máquinas."
"Um dia, imagino um aplicativo que permita fazer anotações de forma muito fácil do jogo em sua mesa ou notas por voz. A nota por voz é convertida em dados e, durante uma pausa ou após cada mão, você recebe gráficos atualizados sobre o que fazer com um jogador específico que são fáceis para memorização humana".
Niman Kenkre curte a ideia de enfrentar um robô.
"Não teria problema algum em competir contra um robô", disse Niman Kenkre. "Acho que seria bem legal. É interessante pensar em como nos ajustar e melhorar para jogar contra um robô".
Matt Ashton preferiria ver os robôs enfrentando outros robôs.
"Não gosto da ideia de competir contra robôs", disse Matt Ashton. "Acredito que os robôs deveriam ter suas competições em separado e deixar os humanos com sua habilidade inferior competirem entre eles mesmos".
O criador do Libratus disse que o NLHE era a "última barreira" para a IA contra os humanos em teoria dos jogos. O objetivo principal de criar o Libratus é projetar uma inteligência de IA geral que possa ser confiável no mundo. Estamos preocupados com isso?
Pensando além do pôquer, quantos do nosso júri estão, como eu, preocupados sobre o impacto que a IA terá no mundo, como um todo, em uma forma existencial? Parece que temos um grupo dividido igualmente entre aqueles que estão preocupados, aqueles que não estão e aqueles que não conseguem se decidir.
Terrence Chan prefere focar no lado bom do que a IA pode fazer no mundo.
"Sempre há um pouco de preocupação de que os robôs dominarão o mundo e matarão a nós todos, no estilo "Exterminador do Futuro". Mas a história da civilização humana é que a tecnologia melhorou a humanidade, apesar de que praticamente todo avanço tecnológico significativo tenha sido visto (naquele momento) como tendo um grande potencial para consequências negativas", disse Terrence Chan. "A prensa móvel, a máquina a vapor, o carro, a fissão nuclear... Essas coisas foram todas vistas como potencialmente perigosas e, de muitas maneiras, foram, mas eu alegaria que elas tornaram a humanidade melhor, em geral".
Brian Rast tem sentimentos contraditórios.
"A probabilidade de que as IAs mais potentes resolvam problemas é gigantesca, e devemos ficar felizes sobre as possibilidades que isso traz à humanidade", disse Brain Rast. "Mas, pelo outro lado, há problemas. A mesma potência poderia ser usada para fins maldosos (assim como com qualquer tecnologia potente). E a IA propriamente dita pode apresentar à humanidade uma crise existencial. Há uma teoria da Singularidade bem popular, a ideia é que se e quando uma IA se tornar inteligente, ela se tornará imediatamente muito mais inteligente se comparada aos humanos, e poderá decidir nos exterminar se não tivermos cuidado em como isso é feito e como ela é programada".
E os derrotistas:
"Estou muito, mas muito preocupado com a confiança que as pessoas podem ter ao colocar a IA no mundo. Por alguns motivos óbvios e outros nem tanto", disse Bill Perkins. "Quando uma nova tecnologia é apresentada, ela tende a melhorar vidas, mas os benefícios se acumulam aos ricos e super-ricos, criando cada vez mais e mais desigualdade de renda".
"A IA é um dos criadores de desigualdade de renda mais rápidos. No final das contas, a desigualdade de renda leva à violência, caos, crimes e instabilidade. Se você pensar em uma pessoa pobre hoje nos EUA comparada ao Rei George III, hoje, a pessoa pobre está melhor em muitos quesitos, talvez em todos. O que impulsiona o crime e a desesperança é a distribuição de renda."
"A IA pode alterar radicalmente essa distribuição. Digamos que a IA aumente a expectativa de vida de grupos específicos de pessoas para 200 ou 500 anos; esse tipo de privação relativa é catastrófico. Esse é o problema que eu tenho com a Singularidade e a IA. Muitas, mas muitas pessoas morrem, ou o caos acontece conforme nos aproximamos à Singularidade, de forma que nunca cheguemos nesse momento ou poucos sobrevivam para vê-lo. Os humanos precisam ser pró-ativos sobre esse problema conforme evoluímos para uma sociedade que eliminará todos os trabalhos de condução, muitos dos trabalhos de produção, alguns dos trabalhos de programação, etc. Contando com isso tudo, como essas pessoas sobreviveriam? O crime parece uma resposta racional na situação atual."
Matt Ashton e Andrew Barber estão igualmente preocupados.
"Não compreendo completamente os perigos em potencial da IA, mas, em curto prazo, eu espero quase exclusivamente que coisas boas venham das melhorias da IA", afirma Ashton. "Ao mesmo tempo, consigo prever que isso vá, eventualmente, tomar uma dimensão muito grande e a IA dominará algumas funções de uma maneira que entra em conflito com a moralidade atual da maioria das pessoas".
"Estou extremamente preocupado", disse Andrew Barber. "Há muitas pessoas no Silicon Valley, e em outros lugares, preocupadas sobre o risco existencial apresentado pela IA".
Você se importa com o que acontecerá daqui a 100 anos?
Para a maioria de nós, provavelmente nem estaremos aqui para ver os humanos voltando a sua forma de primata enquanto a IA pega nosso lugar.
Perguntei ao júri se eles se importavam com o destino do mundo daqui a 100 anos, e a resposta afirmativa foi unânime.
"Eu me importo com o que acontecerá daqui a 100 anos", disse Bill Perkins. "Há uma chance muito real de que meus filhos estarão vivos e aproveitarão ou sofrerão com o que estiver acontecendo no mundo, e há uma chance remota de que também estarei".
"Um dos maiores problemas que os humanos têm é se preocupar com outros humanos que não estão diretamente em contato com eles. É um dos maiores motivos pelos quais tanto sofrimento prevalece no mundo. Desde a teoria do tempo e espaço (relatividade), temos o mesmo problema; a pergunta ideal é "eu me importo o suficiente sobre o que acontecerá daqui a 100 anos?". Da mesma forma que você perguntaria se eu me importo o suficiente com as crianças morrendo de fome ou as que estão em campos de guerra."
"Sim, mas é difícil imaginar problemas atuais no futuro", disse Niman Kenkre. "Tenho muita confiança na mente e espírito humanos; acredito que os homens continuarão a inovar na forma de encontrar soluções a problemas que vão crescer e surgir no futuro".
"Sim, eu me importo bastante. Esse é um dos motivos pelos quais o aquecimento global é um dos problemas mais importantes para mim", disse Brian Rast.
Andrew Barber acredita que temos problemas maiores do que ficar imaginando como seria o mundo daqui 100 anos.
"Na minha opinião, precisamos nos preocupar em chegar lá primeiro", disse Andrew Barber. "As pessoas não dão valor suficiente ao futuro. Algumas preocupações graves atuais precisam ser solucionadas, como as alterações climáticas e a "IA exterminadora".
Como a IA faz o júri se sentir em um nível emocional?
Perguntei ao grupo como eles se sentiam quando pensavam sobre a IA.
"Sou um otimista, então tenho mais esperança que medo, mas acredito que ela transformará drasticamente a sociedade de maneiras que as pessoas não conseguem imaginar atualmente", disse Bryan Paris.
"A reação instintiva pode ser negativa, mas, em geral, tenho um sentimento positivo sobre ela", disse Terrence Chan.
"Estou animado e com medo ao mesmo momento", disse Bill Perkins. "Os humanos tendem a usar de forma errônea a tecnologia e as novas coisas que eles aprendem, seja explosivos, biotecnologia, química, física, etc. A IA tem muitos usos formidáveis, mas é uma ferramenta, como uma faca ou a energia nuclear, salvo que é bem mais potente e é bem mais abrangente".
"Apreensão e ceticismo", disse Andrew Barber.
O que você acha que acontecerá ao mundo das apostas daqui a 50 anos se desenvolvermos uma IA com inteligência sobre-humana?
A maioria acredita que as apostas ainda existirão, apesar de estarem em um mundo bem diferente.
"O pôquer online obviamente deixará de existir", disse Bryan Paris. "Acredito que as pessoas ainda apostarão em jogos de esporte e irão a cassinos. O pôquer ao vivo pode sobreviver, contanto que continuem evitando que as pessoas tragam máquinas potentes à mesa com elas. Em geral, as pessoas terão mais tempo para apostar, pois a maioria dos trabalhos se tornará obsoleta".
"As apostas são uma das coisas que ainda existem porque atingem partes bem primais de nosso cérebro, as quais temos dificuldade de controlar", disse Terrence Chan. "Daqui a 50 anos, é possível que tenhamos implantes cerebrais que permitam aumentar ou diminuir nossa produção de dopamina, e não precisaremos apostar, ter relações sexuais ou comer para ativarmos essa produção, mas se isso não acontecer, as apostas ainda existirão".
"Talvez, em algum momento, a IA chegará à conclusão de que as apostas são uma atividade de renda negativa para o mundo e influenciarão as pessoas a se livrar delas", disse Matt Ashton.
"O abismo parece estar bem imune às pessoas ficarem mais inteligentes!", disse Andrew Barber.
"Acredito que ninguém jogará pôquer online por qualquer quantia significativa", disse Brian Rast. "Ele será jogado de forma semelhante a como o xadrez é jogado hoje em dia. Acredito que o pôquer ainda será jogado ao vivo, e em torneios, as pessoas não poderão usar tecnologia de apoio".
"Acredito que a 'jogatina' fora do pôquer ainda existirá na forma de cassinos e outras coisas, porque a IA não tem efeito na decisão de onde as pessoas apostarão seu dinheiro em jogos -EV. Isso é fruto de más decisões que tomamos, e isso sempre existirá", disse Brian Rast.
Humanos tomando más decisões?
Não consigo pensar em outra coisa senão nas últimas palavras do Brian.
É isso o que o Libratus significa?
A equipe da Carnegie-Mellon tomou uma decisão ruim?
Foi Sam Harris que me lembrou de que os circuitos eletrônicos funcionam um milhão de vezes mais rapidamente que os bioquímicos, o que significa que a IA pode realizar 20.000 anos de "trabalho" todas as semanas. Como podemos entender minimamente o que isso significa para a raça humana?
Não podemos.
Mas gostaria de agradecer aos meus sete entrevistados por darem seu melhor palpite.
Bryan Paris, Terrence Chan, Bill Perkins, Niman Kenkre, Matt Ashton, Andrew Barber e Brian Rast.