Enfrentar um triple barrel feito por nosso oponente pode ser assustador. Isso se aplica especialmente quando possuímos algum tipo de mão de força média que adoraríamos ter na hora da verdade. Diante dessa demonstração de agressividade do nosso adversário, não nos resta outra opção a não ser desistir.

Apesar de ser agressivo, a verdade é que esse jogo quase sempre tem muito valor. A maioria dos jogadores não blefa com o third barrel tanto quanto deveria. Supondo que estamos seguindo uma estratégia de pôquer ideal, provavelmente blefamos quase 30% do tempo na maioria das situações de triple barrel. O jogador médio blefa aproximadamente 5% do tempo ou nunca blefa.

Quando é correto usar um triple barrel como blefe ou por valor?

O que é mesmo um Triple Barrel?

Se isso pareceu um pouco confuso, eis uma rápida definição do que significa “triple barrelling”. Estamos nos referindo a uma situação na qual lançamos apostas consecutivas no flop, turn e river. Cada aposta é chamada de “barrel” (barril) e há três streets (flop/turn/river), logo, o nome “triple barrelling”.

Na maioria dos casos, o triple barrel ocorre quando somos o agressor no pré-flop. No entanto, um triple barrel também é possível quando somos o cold-caller IP e OOP. Tendo em vista que o Triple barrelling OOP como cold-caller é um pouco incomum, há uma boa chance de que nossos oponentes usem essa linha com mais frequência do que nós.

Triple Barrelling por valor

Naturalmente, muitos de nós usarão o triple barrel para obter valor. É o blefe com triple barrel que parece um pouco contraintuitivo. Primeiro vamos explicar brevemente nossa estratégia de triple barrel por valor.

A principal informação aqui é que o maior par geralmente não é forte o bastante para um triple barrel por valor. Nossa variação de triple barrel por valor deve ser 2 pares ou mais.

É importante qualificar essas suposições, pois haverá muitas exceções. Vamos considerar alguns exemplos.

1 – O adversário é um chama tudo – Espera-se que seja razoavelmente óbvio que, se nosso adversário tiver dificuldade para desistir de qualquer par, ou mesmo de um ás maior, então nosso maior par pode ser bom para 3 streets de valor, independentemente de nosso desempate.

2 – Não flopamos o maior par, mas, em vez disso, acertamos no turn ou river – Embora seja um pouco sutil, essa abordagem faz uma grande diferença. Os jogadores estão ligeiramente mais inclinados a acreditar que flopamos algo do que a acreditar que acertamos no turn ou river.

Logo, se floparmos o maior par em uma mesa As7c6c com AJ, enfrentaremos dificuldades para obter 3 streets de valor. Na verdade, quase sempre devemos tentar apenas 2 streets, a menos que tenhamos uma boa leitura de nosso oponente. Contudo, imaginemos agora que estamos usando o double-barrel AcJc na mesa 6c7c2h3h e o river é As; geralmente podemos atirar no river outra vez para obter valor. Nosso oponente pagará com seus piores pares mais frequentemente porque está menos inclinado a acreditar que ganhamos com um ás no river.

3 – Como a finalização da mesa é horrível, nem mesmo podemos apostar 2 pares por valor – Vamos dizer que flopamos 2 pares com 8c9c e a mesa acaba como 8h9h2c7sJs. Estamos indo muito bem no flop com nossos 2 pares maiores, procurando lançar 3 streets para obter valor. A carta no turn não é ótima, mas ainda estamos comprometidos a atirar o 3.

O river está horrível. Espera-se que entendamos o porquê. Agora há 4 cartas para um straight. Nosso adversário ficará assustado com a possibilidade de que tenhamos um straight, e é muito improvável que ele nos pague com um par em mãos. É provável que sua variação de pagamento agora inclua 2 pares, sets e straights melhores mais frequentemente do que inclua mãos piores. Portanto, apesar de possivelmente ainda termos a melhor mão, nossos dois pares não são mais suficientemente fortes para atirar o third barrel, e precisaremos pedir mesa.

Triple Barrelling como blefe

Em geral, é necessário um pouco de coragem na primeira vez que decidimos disparar esse third barrel como blefe. Em essência, estamos arriscando uma quantidade significativa de nosso monte com nada, e a experiência fará com que a maior parte das pessoas se sinta desconfortável. Há uma resistência psicológica natural a investir grandes quantidades de dinheiro em um blefe, razão pela qual muitos jogadores jamais desenvolvem uma boa estratégia de blefe no river.

Contudo, não se pode assumir que somos todos iguais. Uma minoria de jogadores parece ter o gene do jogo e viver a emoção de realizar grandes blefes. O jogador médio raramente usará um blefe com third barrel, e isso é algo que podemos explorar. Em geral, devemos dar a nossos oponentes bastante crédito quando eles usam o third barrel e nos preparar para fazer algumas boas desistências.

Como podemos então reverter a situação e colocar nossos adversários sob a mesma pressão com um third barrel? Geralmente existem 3 coisas que podem nos ajudar a identificar uma boa oportunidade de blefe com triple barrel.

1 – Nenhum valor na hora da verdade – As melhores mãos para blefe são aquelas com valor zero na hora da verdade. O river é o único momento em que ocorre uma verdadeira polarização. Devemos apostar nossas melhores mãos para obter valor e nossas piores mãos como blefe. Essa jogada é um pouco diferente da polarização em qualquer outro street.

Por exemplo, quando reaumentamos uma variação polarizada no pré-flop, apostamos as piores mãos possíveis na nossa variação? Certamente usamos algumas mãos como blefe, mas costumamos selecionar blefes que têm algum tipo de potencial, como conectores do mesmo naipe ou ases do mesmo naipe. Geralmente não blefamos no pré-flop com 27o ou 32o. Assim, embora não seja errado se referir a essa estratégia como polarizada, o único momento é em que a absoluta polarização ocorre é no river.

Por que então optamos pelas mãos mais fracas possíveis quando blefamos? A razão não é excessivamente complexa. Vamos imaginar que usamos um blefe com double-barrel com determinada mão e conseguimos um par médio no river. Podemos achar que a mão não ganhará com muita frequência na hora da verdade, mas ela vencerá com uma determinada frequência. Portanto, as expectativas de mesa são não zero.

Comparando com um péssimo 5-high flush draw, essa mão jamais vencerá na hora da verdade. A expectativa de mesa será zero. Portanto, se a mão proporcionar uma expectativa positiva como blefe, devemos usá-la claramente com essa finalidade.

Podemos aprender duas lições com isso:

  1. Não podemos blefar em toda situação de river (pelo menos não em teoria). Faz sentido, portanto, blefar com as mãos com a menor expectativa de mesa e pedir mesa com as mãos com a maior expectativa de mesa.
  2. Do ponto de vista de exploração, se uma mão proporcionar uma expectativa positiva de mesa, a expectativa de blefe não apenas precisa ser positiva, como também precisa proporcionar uma expectativa maior do que a de mesa para ser a opção correta. Basicamente, quanto mais valor na hora da verdade uma mão tem, maior é a expectativa de mesa e menor a de se considerar que a mão deve ser usada em um blefe com third barrel.

2 – Bons bloqueadores – Trata-se de um conceito um pouco secundário, mas, quanto melhor nosso oponente fica, mais importante se torna esse componente específico da nossa estratégia. A ideia é que os tipos de cartas que estamos usando para blefar podem nos ajudar a definir a frequência com que nosso adversário está pagando ou desistindo.

Imagine que estamos blefando na seguinte finalização:

4h5h9c6hKs

Seria melhor ter Ah7s ou As7s ao blefar no river?

Em um primeiro momento, parece praticamente a mesma mão. É verdade que houve uma expectativa adicional no turn ao termos o nut-flush-draw. No entanto, como já perdemos essa, o valor das duas mãos no river é idêntico na hora da verdade. Digamos que fomos informados de que precisamos escolher uma das duas mãos para apostar e a outra para pedir mesa. Qual devemos escolher?

Ah7s deve ser claramente a favorita. Mas por quê? Em termos simples, ela tem os melhores bloqueadores. Qual é a mão que temos receio de enfrentar quando realizamos um blefe com third barrel usando essa textura? Obviamente estamos um pouco preocupados com a possibilidade de que nosso oponente tenha um flush. Ter uma copa em nossas mãos é benéfico porque isso significa que há menos combinações de flushes de copas à disposição do adversário. Devemos ser capazes de estabelecer se aumentamos a equidade de desistência nesse cenário considerando cuidadosamente nossas próprias cartas fechadas.

Tendo isso em mente, o que você acha do seguinte cenário?

4h5h9c6cKs

Seria melhor ter Ah7s ou As7s ao blefar no river?

Primeiro, note a sutil diferença. O flush-draw não completou dessa vez; o 6 é um naipe de paus em vez de copas. Faz alguma diferença em relação a qual mão escolhemos para blefe? Com certeza. Agora não queremos ter copas, pois isso significa que haverá menos combinações de draws de copas das quais o oponente pode desistir no river.

3 – Variação limitada – É sempre um ótimo bônus quando podemos identificar se nosso adversário está limitado. Por “limitado”, podemos entender que a variação do oponente é construída de tal forma que ele raramente pode ter algo forte.

Essa situação pode ocorrer quando nosso oponente paga no flop e turn na seguinte finalização de mesa:

TsJs6d2c3c

É interessante notarmos que essa textura é muito dependente de draw. Se nosso adversário tivesse 2 pares ou um set, haveria uma boa chance de que ele aumentaria nossas apostas de continuação no flop ou turn. A carta no river não completa qualquer um dos draws disponíveis, significando que nosso oponente geralmente está limitado em mãos com Jx. Ele também pode ter mãos Tx e uma ampla seleção de draws ruins. É sempre bom saber se não existe a possibilidade de que nosso adversário tenha uma mão premium quando estamos considerando esse third barrel como blefe.

4 – Seleção de turn – Ok, já demos 3 sugestões. Por que há uma quarta? O motivo é que essa dica não está diretamente relacionada a jogadas no river. Uma jogada no river não é algo completamente isolado que ocorre no vácuo. Nossas decisões no flop e turn terão um grande impacto sobre o tipo de situações que vamos enfrentar no river.

É preciso selecionar nossa variação de blefe no turn com base nas cartas fechadas que têm a maior equidade. Na maior parte dos casos, será uma mão com um bom draw. Se cairmos no hábito de blefar no turn muito agressivamente com mãos sem valor, naturalmente acabaremos no river sem nada. Colocaremos nós mesmos em uma situação na qual vamos ser forçados a blefar com muita frequência ou terminaremos pedindo mesa ou desistindo de mãos com as quais preferiríamos blefar.

O oposto pode ser verdadeiro quando jamais realizamos semiblefes no turn. Imagine que apenas disparamos no turn para obter valor. Nossa variação de river terá muito valor, e não seremos capazes de lançar qualquer blefe no river para equilibrar as vezes em que estamos apostando por valor. Um bom adversário será capaz de fazer alguma grande desistência com mãos fortes, garantindo que raramente sejamos pagos.

Vá em frente!

Se nunca sequer consideramos um blefe com third barrel, agora é o momento de fazê-lo. Trata-se de algo que pode causar desconforto nas primeiras vezes que é usado, mas por fim se torna um elemento padrão do nosso jogo.

Não devemos ficar frustrados se nosso blefe no river não funcionar. Esse é outro aspecto contraintuitivo quanto ao funcionamento do pôquer. Supondo que apostamos aproximadamente 66% do pote no river, só é preciso que nosso oponente desista pouco mais de 40% das vezes para que o esforço seja lucrativo. Basicamente, mesmo que nossos blefes falhem na maior parte das vezes, eles ainda gerarão dinheiro para nós em longo prazo.

Chad Holloway é ganhador do bracelete do WSOP 2013 e trabalhou anteriormente para o PokerNews como editor-chefe e repórter ao vivo